sexta-feira, dezembro 21

Um passeio por VIENA | Aústria - Dia 1


 "THE WORLD IS A BOOK. THOSE WHO DON'T TRAVEL READ ONLY ONE PAGE."


Eu não sei quem o disse, mas não podia estar mais de acordo. 
Aquela frase cliché que diz que viajar é a única coisa que compramos e nos deixa mais ricos é algo que faz cada vez mais sentido no meu modo de estar na vida. 
Viajar e comer bem são as duas coisas que me fazem gastar dinheiro sem me arrepender, porque são duas coisas que contribuem exponencialmente para a minha felicidade e conhecimento. 
Quem não se atreve a conhecer novos lugares, novas línguas, outras culturas, ter novas experiências e lidar com contratempos, estará destinado à rotina fechada de uma mente sem asas para voar. E isso? Eu não quero para mim.   


Há algum tempo que quero ir a Viena de Aústria. 
Perguntar-me-ão porquê Viena, quando a maior parte das pessoas da minha idade ambicionam ir a Nova Iorque, Dubai ou qualquer outra cidade megalómana de estatuto WOW, que é como quem diz com uns quantos prédios grandes para caraças ao ponto de nem caberem na lente da máquina fotográfica, onde não se dorme por existir tanta coisa para fazer e beber uma garrafa de água é quase equivalente a comprar uma garrafa de Möet Chandon. E a resposta é fácil. 
Não tenho qualquer fascínio por cidades novas, sem sangue azul e peripécias históricas. E Viena, desde as aulas de Economia do meu 12º ano, que está a chamar por mim.

Na altura tinha uma professora apaixonada por ópera, ballet e música clássica. Ela passava para todos aqueles com quem falava desta cidade, a sua paixão. Chegava a ir passar o fim de semana à Aústria para assistir a espectáculos de renome. Aquilo ficou-me no sentido.
Viena deveria ser de facto uma cidade cultural fantástica. 

Também a minha mãe já lá tinha ido e me fazia comentários semelhantes, pois gostava de lá voltar. 
Andei a tentar programar viagem, para ir no no meu aniversário, pois nos últimos três anos já quase que se havia tornado tradição festejar este dia fora do meu país de origem (Açores, Roma, Paris). Contudo, estes foram planos adiados porque o meu trabalho me fazia correr a um ritmo alucinante, aproximava-se o natal...  e eu não estava certa se teria dias livres, nem disposição para ir viajar, tendo em conta o cansaço acumulado que sentia.

Foi o meu aniversário e eis que alguém se esteve a marimbar para isso e fez o que eu mesma devia ter feito: reservou a viagem, ofereceu-me de prenda dos 26 e "cá vai disto".

"- Voamos dia 13 de Dezembro.",disse.

O resto pouco importa.

Assim, começou este passeio.



O aeroporto de Faro tem vôos diretos e, por isso, foi quase à porta de casa que apanhámos o avião. Três horas e meia depois estavamos na capital Austríaca e dois dias depois, de regresso a Portugal. 
O tempo foi curto e por isso não conseguimos visitar tudo o que desejávamos, mas como já é habitual, trouxe o melhor para vos contar aqui!!!  Certamente será suficiente para vos lançar o bichinho de viajar até lá, espero! 

Viena foi eleita sete vezes consecutivas como a cidade do mundo com melhor qualidade de vida. Motivos como a qualidade dos serviços de saúde, educação, infraestruturas e estabilidade económica, estiveram no topo desta eleição. É ainda de realçar a baixa taxa de criminalidade que faz jus à sua vitória face a uma série de outras grandes cidades que competiam a par e passo por este lugar, tais como Paris, Londres e Nova Iorque. 

Querem mais motivos para ter interesse em lá ir? 

Ok. É dona do segundo maior rio do Continente Europeu, o rio Danúbio e, tem dentro dos seus monumentos megalómanos, ruas, estações de metro e até mesmo pessoas, a História, Cultura e Arte que imaginei na minha cabeça quando ouvia a professora de economia do 12º murmurar entre as licões do PIB per capita e as variações do salário mínimo mundial, o quão maravilhosa era esta cidade para sí. E já que falamos nisso, fiquem a saber que o salário mínimo na Aústria é de 1500€ tendo em conta 40 horas semanais. 




Chegámos por volta das 21h30 com um aviso - que nos lembrava como o alemão é uma língua realmente diferente -, de que a temperatura na rua rondava os zero graus celsius (antigamente, graus centígrados, para quem quiser aprender algo como eu aprendi agora). 

Breeeeeeeeee! 
Isso é sinal de que as fotos que vos vou mostrar nos próximos dias não vão dispensar um bom casaco, collants, meias duplas, luvas, cachecol e gorrinho. A parte menos boa de quem não é fã de andar enchouriçada, confesso.

                     

Posto isto, e depois de percebermos que de facto tinhamos chegado a uma cidade de infraestruturas à séria a medir a olhómetro o tamanho dos corredores do aeroporto, fugimos do CAT (um comboio rápido que liga o aeroporto ao centro de Viena - que custa desde 11€) e, inteligentes como fomos - modéstia à parte, claro -, apanhámos o comboio "normal" até à estação de metro mais próxima que custou apenas 2,30€ por pessoa. 
Por isso, para quem pensa viajar para Viena, este é o meu primeiro conselho. Esqueçam o CAT! :) 

Avistada a primeira estação de metro, eis que nos surge a primeira pergunta retórica: 
"Vamos andar de transportes públicos ou a pé?"

Habitualmente, em cidades europeias de geografia plana, optamos por gastar as perninhas e palmilhar tudo o que é rua com os olhos. O que eu aconselho vivamente, pois apesar de gastarem a sola dos sapatos e terem de fazer algum cardio ao pulmão, esta é a verdadeira essência de conhecer os cantos e recantos de uma cidade. Já para não falar que sempre mantemos o bolso um bocadinho mais pesado para o que der e vier por algum tempo (€). Na verdade, o tempo suficiente até encontrarem a primeira lojinha de souvenires (eheh).

Viena é uma cidade plana. Contudo, tinhamos dois dias, já com um programa mais ou menos delineado (usámos o site https://www.tudosobreviena.com/ e a App do Google Trips para isso - Recomendo muito!!) e se há coisa que não havia de sobra era o tempo. Isso, a juntar ao frio que já nos entrava pelas frechas das calças da moda, rasgadas no joelhos, vai lá vai! 

- Vamos de transportes! 

Voilá! É aqui que volta a lâmpadazinha mágica do pré planeamento de uma viagem, que nos diz que existem passes de 24h, 48h e 72h. E eis que o de 72h já viaja connosco no bolso (17,35€ por pessoa), rumo a ALSER STRABE, lugar do nosso hotel! 

Para todos os viajantes habituais, não é novidade dizer que, deixar a reserva de alojamento para último (tipo uma semana e meia antes de viajarem) não é de todo uma boa ideia! Os preços vão ser mais caros, pois a taxa de ocupação dos hotéis já mais elevada e, meus amigos, também aqui se aplica a lei da oferta e da procura. Assim, posso-vos contar que não escolhemos o melhor hotel do mundo, mas escolhemos uma cama confortável, com casa de banho privativa e a melhor localização que podiamos ter imaginado. Caso vão a Viena, recomendo-vos procurar algo na zona desta estação de metro. 

Ansiosos por saber o resto, tanto quanto nós estavamos quando finalmente deitámos a cabeça nas nossas almofadas?! 

Fiquem desse lado para saberem o que realmente interessa!

(...continua)

Patrícia Luz

quarta-feira, setembro 12

Primeiro dia de Aulas | Quem se lembra?

Tinha cinco anos, palmo e meio de altura. Menos de metade dos dentes e o cabelo cortado à menino, porque, diz o meu pai, fui eu que quis assim por solidariedade com o meu irmão, que não gostava lá muito de cortar o cabelo nas férias de verão. Não me lembro ao certo disto, mas lembro-me de ser feia como o raio. 

Se me perguntarem acerca dos últimos dias de férias antes de se dar inicio a jornada de estudante até ao que me tornei hoje, talvez  eu me lembre melhor e vos possa dizer como era divertido fazer asneiras no pátio da casa dos nossos avós. Porque depois disso, tudo foi uma correria entre férias e não-férias. 

Começou desde então a existir uma cronologia na nossa existência.  

 1º ano, 2º ano, turma do 5ºC, 10ºD. Os amigos daquele ano. Os do ano seguinte. Quando andava na escola de Pataias, quando afinal a da Penha é que era. Mas quem se pode esquecer da "Nova" ou dos tempos de Liceu? E a faculdade?

Antes dos cinco anos como se contabilizava o tempo? Pelas festinhas de aniversário na casa uns dos outros? Só pode.  

Com cinco anos eu entrei para a escola primária de Pataias e lembro-me como se fosse hoje, apesar de não recordar grandes pormenores. Tirando a Carolina, era talvez a mais nova da turma, como sempre fui, até à conclusão dos meus estudos. Um bebé atirado à vida. 

Como referi, não me lembro de muita coisa, mas lembro-me que não chorei. A minha primeira professora chamava-se Lurdes e era muito gordinha, tinha os cabelos curtos encaracolados e era muito querida. Quão lhe posso agradecer por hoje saber ler e escrever estas letrinhas que, juntas, formam palavras com algum significado. 

Lembro-me muito bem do Duarte. Com aquele ar reguila de pião de madeira que o pai lhe fizera debaixo do braço. Da Melissa que era a mais bonita da escola e da Jéssica, a minha melhor amiga desde o berço, quase. Da Vilma, a nazarena a quem roubava bolicãos e filipinos no ATL, do João a quem dava beijinhos na boca às escondidas nas traseiras da escola, do Flávio que era o vizinho da minha rua, da Vera que era a melhor aluna, do Hugo porque faziamos o mesmo caminho para a escola, da Carina, da Andreia, da Susana, do Nuno.... enfim! Acho que é impossível esquecer os nossos parceiros do abecedário e contagem crescente até cem, certo? 

Já nos conheciamos, a maioria, das aventuras do infantário. Das corridas de pneus ou dos carnavais vestidos de batmans e cinderelas,por isso, o primeiro dia de aulas não foi um choque. 

Lembro-me de estar entusiasmada por finalmente ir ter canetas e lápis novos. E de quando foi o momento de escolher o lugar na sala de aula, com os pais todos de pé ao fundo mais alarmados com a situação do que nós próprios! Lembro-me da mãe da Melissa de lágrima no canto do olho (ehehe). 

Lembro-me do abecedário colado na parede, com imagens de objectos a exemplificar cada letrinha. 
A - Abelha,
B - Boneco,
C - Cão,
D- Dado, 
E - Égua, 
F - Foca 

.... quem não? 

Lembro-me de acreditar que ia finalmente poder ensinar a minha avó a escrever bem o seu nome e a ler. 

Tantos sonhos. 
Tanta vida começou ali, naquele dia de Setembro de 1997. 

Quem mais se lembra do seu primeiro dia de aulas?  

Patrícia Luz
11 de Setembro de 2018



segunda-feira, setembro 10

A Educação Comodista

Hoje volto às palavras. 


Alguns vão criticar-me depois de ler o que vou escrever, outros vão estalar o canto da boca e bradar aos céus "deixa chegar a tua vez, que logo vemos como é". Mas neste momento é a minha opinião e porque sou livre de a dar num espaço que ainda é meu, eu vou fazê-lo. No dia em que mudar de opinião também sou Mulher de me ajoelhar e admiti-lo. Agora não!

 Sou aquela pessoa que gosta de passear e ocupar o meu tempo sozinha. Faço mesmo muitas coisas sozinha. Vou à praia numa boa, faço snorkeling de vez em quando, vou ao shopping e até prefiro assim, vou áquele restaurante que quero mesmo experimentar e, que, por sinal não houve ninguém com a mesma vontade que eu naquele dia (ou mesmo, porque me aborrece ir com "alguém": uma pessoa que não é aquela que eu quero que vá efectivamente comigo àquele lugar - não sei se já vos aconteceu ou se sou a única pessoa estranha neste mundo a gostar de partilhar sitios específicos com pessoas específicas), enfim, já cheguei a ir sair à noite sozinha até, porque verdade seja dita nunca estamos sós. E na maior parte das vezes até se torna divertido. 

É essencialmente por isso acontecer que me tornei uma pessoa bastante observadora de tudo o que está à minha volta. 

É facto, que quando estamos a jantar com alguém, por exemplo, temos algo suficientemente interessante para nos ocupar as atenções: com quem falar, para quem olhar, em quem tocar, sobre o que rir. Mas quando estamos a sós, tudo é exterior à bolha da nossa existência naquele momento, naquele local, àquela hora... e por isso mesmo, a não ser que sejamos um ser macambúzio e desinteressado por natureza, tudo o resto, passa a ser o nosso foco. 

Tenho, por isso, reparado na educação comodista dos dias de hoje e quero falar dela. Primeiro porque me entristece na medida em que estamos a formar o futuro e, depois, porque assusta-me ter que vir a viver assim: com mesas compostas de famílias que se reunem em silêncio por trás do ecrã dos telemóveis. Não há gritos! Não há chatices! Não há um diálogo! Os irmãos já não roubam batatas fritas uns aos outros, porque nem despegam do telefone para olhar para o prato do lado!?! Como assim? Ninguém sabe nada de ninguém?! Ninguém está verdadeiramente ali. Ninguém está a valorizar aquele momento fantástico que é o de terem todos os seus familiares sentados à mesma mesa? 

Crianças com três anos de idade, ou menos, comem a olhar para um tablet. Porquê?
«Ah porque se não for assim ele não come!» - Como assim, não come? Não se comia antigamente, nesta vida? 

«Porque é a forma de o ter sossegado!» - As crianças não nasceram para serem peluches de estimação! 

«Porque se não for assim, não conseguimos jantar sossegados com os nossos amigos.» - Então mas... quando se deitaram naquele dia de amor louco, não se lembraram que os jantares com os amigos nunca mais seriam os mesmos? 

Antigamente não era assim. Porque é que agora é? 

Logicamente porque a civilização evolui (nem sempre para um pólo extremamente positivo, convenhamos) e temos que nos adaptar. Ok! Então mas e.. temos mesmo que nos adaptar a algo que destrói a educação das normas de conduta em sociedade? A educação do bê à bá da vida? 

Na minha opinião não. 

Na minha opinião estamos a assistir a uma educação comodista de pais que não se querem dar ao trabalho. Que não se querem chatear. Que estão nem aí para se chatear. Que querem ter filhos e ter paz e sossego. Onde é que está a lógica?

Continuamos a criar pequenos monstrinhos de laboratório que nunca saberão o gosto amargo de um NÃO! Que nunca conhecerão o significado de um olhar durão - porque nem tão pouco tiram os olhos dos ecrãs para olhar para os pais. Que em poucos anos, estarão - como alguns até já fazem - a dar ordens aos pais. A fazer exigências. 

Há excepções? Claro que há. Há pais que regram as coisas! E não limitam o avançar da civilização aos seus filhos. Mas nada como ter conta-peso-e-medida. Porque até nisso é possivel a educação ter um papel activo. E a esses eu tiro o chapéu! 

Mas... e o resto? 

Sento-me nessas mesas muitas vezes sozinha a observar estas familias modernas, tão grandes e tão sós, tão avançadas tecnologicamente mas tão vazias do que realmente importa e penso o quão bom é viver na minha bolha. Mas quão triste é querer ter a minha família sentada à minha mesa e não ter. 

Há vinte cinco anos atrás, formar Homens para o bê à bá da vida era tarefa honrosa, para aqueles que a faziam bem. Hoje, esperemos que o google ensine.  

Beijinhos,  
Pat
10 de Setembro 2019




domingo, setembro 9

Ainda sobre a Feira Medieval de Castro Marim


Quem é que por aí já foi a uma feira medieval? 

Há algum tempo que queria ir a uma e meti na cabeça que deste ano não passava. 
Sempre tive uma grande curiosidade de como seria viver na idade média e poder recuar uns anos na história, vivenciar e voltar a esta época na primeira pessoa, foi uma experiência muito gira que quero partilhar convosco.

Castro Marim é uma vila raiana que toda agente devia conhecer. A sua imagem transmite história assim que a vemos no horizonte, por isso imaginem em plenos dias medievais. 



Depois de um pulinho a Espanha num final de tarde de Agosto, foi assim que fomos recebidas: um final de tarde abrasador, com um pôr de sol estrondoso no horizonte e os castelos impunes como fundo deste quadro que poucas palavras mais precisa. 

 Centenas de figurantes vestidos a rigor compunham este quadro vivo feito de cartomantes de olhar sedutor, equilibristas em andarilhas gigantescas, encantadores de serpentes, cuspidores de fogo, lutadores, artistas de esgrima, verdadeiros cavaleiros, comerciantes da história antiga, falcões e abutres.

 As músicas mediavais ecoavam nas ruas e paredes de pedra, trazendo um misto de mistério com alegria, àquela animação que presenciávamos de forma tão mágica.




Como se não bastasse, crescia a lua cheia no horizonte. 
O elemento chave que faltava para fazer este cenário mais do que perfeito. 

De repente, sentimos ter abandonado as tecnologias, as vestes actuais, o século XXI, as mordomias que fazem da nossa vivência actual algo mais confortável e voltámos ao antigamente, aos copos de barro, às comidas sem faca e garfo, às mesas de madeira, ao chão de terra. 



As lutas a cavalo foram o palco da animação norturna. 
Como nós estamos longe hoje de imaginar que antigamente as coisas aconteciam mesmo assim, não é? 

Fascina-me esta forma de viver. Como em alguns anos tanta coisa mudou! 
Conhecer a nossa história, os nossos antepassados, as nossas vivências, a forma como chegámos até aos dias de hoje, enriquece a minha cultura e ajuda-me a valorizar aquilo que tenho, de onde vim e para onde vou.

Considero este evento de extrema importância para crianças que frequentam a escolaridade primária e uma óptima oportunidade para também elas se apaixonarem pela história que os trouxe até aqui. Além de educativa é, sem dúvida, um palco de magia para os mais pequenos, aqueles que ainda acreditam nos cavaleiros espadaúdos e nas pequenas bruxas que lêem o futuro nas mãos.  

Espero poder levar lá os meus filhos, quando os tiver (risos). 






Não podia sair daqui sem vos dizer como sou louca por estas banquinhas de bijuteria, pedras e coisas que tais!!! Roupas em croché, trapos inventados com restos de tecidos . Saias assimétricas e colares de prata. wow!

E estas luzes? Lá estou eu a bater nesta coisa da luz. Mas há luzes que criam ambientes que me deixam extremamente feliz! E que me transmitem sentimentos inspiradores. 

Quem é que para o ano não vai deixar escapar uma feira medieval? 

Eu espero poder voltar!

Um beijinho grande, 
Pat
9 de Setembro 2018

quinta-feira, setembro 6

Ilha do Farol | Ponha aqui o seu pezinho




(Estou a dever-vos isto há uma vida, eu sei. Mas a correria entre o Algarve e Lisboa, as vicissitudes da vida e o verão a fugir-nos a passos largos, não me tem deixado parar. E sabem que eu gosto de parar, de facto, quando é para fazer o que amo. Explicações dadas, aqui vai. ) 



Ilha do Farol. 
Quem não foi, que se sente aí para viajar comigo. 
Quem já foi, volte para lá, rápido e poupe o tempo desta leitura, pois nada do que possa escrever a seguir se assemelha a tudo o que se sente lá. 

Desde há dezassete anos atrás, altura em que vim viver para o Algarve, que a Ilha do Farol é a minha favorita das conhecidas ilhas barreira da Ria Formosa. Das habitáveis, claro. Isto porque há outros recantos por aí perdidos que são a maior paz do universo e, que, por agora, vou querer continuar a guardar só para mim e para aqueles que igualmente os conhecem. 


Ir à Ilha do Farol é como viajar para uma ilha paradisíaca em quarenta e cinco minutos e esquecer tudo o que ficou para trás. 
A paz das ruas floridas por onde apenas se caminha a pé ou se circula de bicicleta, faz-nos querer que ali é verão o ano inteiro. O cheiro a maresia trazido pela aragem quente do vento levante, não deixa ninguém sair de lá sem a alma limpa o suficiente para encarar tudo o que deixou para trás, lá no cais onde embarcou. 

Ouvem-se os pássaros, na areia circulam abelhas e cheira a peixe grelhado nos almoços das casas preenchidas. Cheira também à inveja saudável de todos aqueles que estão de visita e não têm uma varandinha para grelhar o seu peixe também, ali. Ouvem-se bocas a bradar aos céus o seu cantinho ali também.


O farol, são os finais de tarde infindáveis, com água quente e galhofa sem fim com os amigos de uma vida. É surfar umas ondas de calções. É colocar em cima de uma prancha uma criança que nunca curtiu uma onda e ver a sua felicidade quando consegue chegar à areia. 

São as visitas dos golfinhos, por vezes, no horizonte. E os pores de sol mais luminosos nos pontões que guardam segredos. 

O farol, são os mergulhos de última hora no pontão dos barcos. São os namoros a que se deram origem depois daquele empurrão inesperado para dentro de água. São os risos insurdecedores e inesqueciveis de cada verão. São as pessoas. As de lá, as que viajam para lá, as que passam temporadas lá. 



É a água translúcida. As conchas à beira mar a rebolar. 

São os cocktails do "Maramais". É o peixe grelhado do Restaurante "À do João"! As cores das paredes. A boa vibe!! 

É a pesca submarina. É ter os pés encardidos de tanto andar descalço. É não conhecer outra roupa senão o bikini ou calção de banho durante a permanência lá. São as amizades, é o calor, são as cores dos corpos bronzeados e ar dos cabelos salgados.  



E apesar de tudo, é o farol. Eu sou suspeita, porque eu adoro faróis. Mas este é especial. Ele dá um encanto especial à vista e à vida. Ele acaba por iluminar os dias também, mesmo que guarde a luz dentro dele. 

Quanto às noites, eu deixo em segredo. Cada uma tem o seu. 

Contem-me!! O que mais sentem quando vão ao Farol? 
E quem nunca foi, de que está à espera? 

Beijinhos e até breve!! 

Patrícia Luz 
6 de Setembro 2018


sábado, agosto 11

Sobre a Amizade

Eu não sou a melhor amiga do mundo. Aliás, eu não sou a amizade mais assídua do mundo, corrijo. Quero relembrar isto a todos os meus amigos do coração, porque de certeza que vão concordar comigo. 
Eu vou estar meses sem dar sinais de vida e provavelmente só irão saber algo acerca de mim depois de já ter dado uma volta de trezentos e sessenta graus e feito o pino vinte vezes sozinha, sem eu própria saber como. 
Eu não vou mandar mensagens dia sim, dia não, a saber se a vida lhes corre a preceito, como foi o dia de trabalho, como está a relação amorosa do ano ou se o piriquito que compraram a semana passada ainda é vivo. 

Não. 

Eu não sou o tipo de amiga de conveniência com quem só se sai à noite. Ou só se vai ao shopping. Ou só se liga num final de tarde de Domingo, porque nenhum dos mil duzentos e trinta pseudos-amigos de alguém não estiveram disponíveis naquele momento. Não sou, nem quero ser, a amiga que interessa ter por perto, só porque... interessa. 

Eu sou a amiga que estará lá independentemente do que quer que seja, à distância de um simples "anda cá". 

Eu tenho uns cinco ou seis amigos que me conhecem como a palma das suas mãos. E que já não me cobram ausências porque sabem que eu estarei sempre lá quando for preciso. Sabem que eu estarei lá, antes de me avisarem que é preciso. Eu estarei lá, quando mais nenhum dos seus outros amigos estiver. E estarei lá a ferro e fogo. A lutar por si como se fosse por mim. Seja por que razão for. Seja como tiver que ser. À distância de um simples "anda cá". 

Porque os meus amigos, ou são ou não. 
Não fui feita para meias amizades. Para quase amizades. Para pseudo-amizades. Para amizades da TRETA. Porque isso são tudo... menos amizade. 
Tanto não fui, que comigo ou é ou não é. Não há espaço para meios-termos. Porque para ter meios-amigos, prefiro não ter. Prefiro correr o mundo sozinha. Prefiro dar uma volta de trezentos e sessenta graus as vezes que forem necessárias para aprender pela minha própria cabeça a errar e a resolver os meus problemas, a divertir-me e a lidar com a tristeza, a sofrer ou a deixar de o fazer. Prefiro falar com as paredes e ouvir o meu próprio eco, a ter amigos de merda, passo a expressão.

A amizade é um conceito dúbio. Cada um tem a sua noção, os princípios por que a regem para sí mesmos, aquilo que mais valorizam em cada uma delas. Normal! Somos humanos. Somos diferentes.

 E aquilo que eu mais valorizo nas minhas, são coisas simples o suficiente para serem essenciais: Lealdade, honestidade e confiança. Simples o suficiente para ter apenas cinco ou seis amigos. Complicado o suficiente para não ter mais do que cinco ou seis amigos.

Não espero nada menos do que aquilo que dou aos outros: Lealdade, honestidade e confiança. Mas isto, eu espero mesmo, com unhas e dentes.

Ser amigo tem muito que se lhe diga. Aprendi que nesta vida temos dois de verdade, o nosso pai e a nossa mãe. E que também eles, estejam onde estiverem, estão sempre à distância de um "anda cá". E depois temos os outros, que à medida que o tempo passa e cujas provas vão sendo dadas, vão crescendo neste barómetro de sentimentos que nos faz gostar mais, ou menos, de alguém. Confiar mais ou menos em alguém.

É quase como um duelo bilateral. O esticar de um elástico com todas as forças do mundo, em que o primeiro a largar, a falhar, a errar, vai magoar o outro.

O objectivo das amizades não é magoar ninguém. Não é esticar o elástico com a finalidade de o largar a seguir. Acho eu, na minha reles e singela opinião. E é por isso que não se fazem amizades de um dia para o outro.

O objectivo das amizades não é dar uma palmadinha nas costas e dizer o que os outros querem ouvir. Não é ser a almofadinha de encosto quando não há mais ninguém. Ser amigo é muito mais do que isso. É ser frontal, é dizer a verdade, é dar opinião tal e qual ela existe dentro de nós. É falar quando algo não está bem. É não falar quando tudo está mal e substituir as palavras pelo maior e mais apertado abraço do mundo. É estar lá na saúde e na doença. É enaltecer as vitórias dos outros. É dar-lhes as mãos cruzadas para que apoiem o pé e saltem mais alto! É esquecer coisas da treta. É não ser orgulhoso. É saber agradecer e, mais do que isso, pedir desculpas. É ser-se fiel - assim como os cães são com donos, estão a ver? -, é ser-se honesto.... mas mais importante que isso é ser-se confidente. Eu creio até que o alimento e sustento de uma amizade é o poder da confiança.

E encontrar alguém confidente, é difícil nos dias que correm. Quase impossível.

Os meus amigos do coração estão sempre comigo, mesmo que eu não esteja com eles. E no dia em que precisarmos de ir à luta juntos, eu sei que eles sabem que estarei vestida dos pés à cabeça por eles e pronta para a guerra. Porque sou tudo aquilo que eu desejo que os meus amigos sejam para mim também.

Eles sabem descobrir o olhar triste por trás do meu sorriso, a minha ansiedade por trás da minha confiança, a minha angústia por trás da pessoa forte em que me tornei. Simplesmente porque me amam tal e qual como sabem que os amo a eles, como eu sou, como eu sou para eles.

A amizade é o amor mais bonito que existe no mundo. Múltipliquem só as de verdade.

Patrícia Luz
11-08-2018


quarta-feira, agosto 8

Alentejo | Uma viagem para os ignorantes


Se há coisa que sou, é suspeita. Mas mais do que isso sou grata. Muito!
Sou grata por ser uma simples miúda de Portugal, cujos pais nasceram e construiram o seu património com grande dedicação, esforço e trabalho, em quatro dos lugares mais bonitos do nosso país - atreveria-me a dizer do mundo - e me tornaram assim uma cidadã nacionalista dos pés à cabeça.
Podia até querer sair daqui. Mas porquê faze-lo, se tenho o paraíso debaixo dos pés? 


Quando me perguntam de onde sou, eu tenho alguma dificuldade em responder, confesso.
Eu quero ser dos quatro lugares que me viram crescer, porque tenho um orgulho enorme no peito em ser de cada um deles. E sou.
Contudo, se pudesse nascer de novo, eu queria ser Alentejana 100% de origem (sou só a 50%).  
E é exatamente por isso que vos quero trazer um bocadinho do meu pedaçinho de Alentejo aqui.


Aquela estúpida noção das pessoas com a mente literalmente fechada e mediocre, acha que o alentejo é apenas aquele lugar de cearas sem fim com casas perdidas na imensidão do vazio. Aquele sitio onde só os leigos seres permanecem. Onde nada acontece. Aquela região que apenas serve para separar os doutores de fato e gravata dos doutores de calção e chinelo no pé - se é que me faço entender -, que por ali passam a cento e setenta quilómetros hora na auto estrada, sem nunca se darem ao luxo de parar para apreciar essa parvónea, como muitas vezes lhe chamam sem que nunca lá tenham ido.

Eu quero falar do Alentejo pelo que ele é efetivamente. E se proventura for um doutor de chinelo no pé que nunca parou para olhar com olhos de ver, convido-o para se sentar aqui, diante do que vou escrever a seguir.

Os alentejanos moram em casas. Assim mesmo. Com quatro paredes que se encontram sempre caiadas de branco como se tivessem sido acabadas de pintar. Se a pintura não estiver no ponto, é porque os braços do trabalho árduo de uma vida já não permitem que quem lá vive a pinte ou, porque a ausência por motivos alheios (de que posso falar um dia mais tarde), tenha feito com que o tempo não a mantivesse como quem lá vivera gostaria de a manter sempre.
Este é um dos factores que o distingue, especialmente por, desta forma, vocês da auto estrada consigam ver as casinhas bem lá ao longe, pois a maior parte delas tem sempre um brio encantador.

Esta região tem água e luz. Para quem acha que não, convém relembrar que, inclusivé, tem no seu território a maior barragem da Europa e teve durante alguns anos a maior central fotovoltaica do Mundo. Isto porque por vezes ouvimos perguntar "És do Alentejo? Então e moras onde, numa casa?". Calma, os alentejanos não moram no estábulo das vacas que tanto se passeiam pelas suas planicies. São mesmo pessoas normais, muitos deles simples o suficiente para não evidenciar o bem mais precioso que qualquer um de vós gostaria de ter, mas ainda não sabe: Uma casa no Alentejo.

As pessoas são trabalhadoras ao contrário do que muitos pensam e de outros que se deixam iludir pelos rótulos de preguiça que lhes foram atribuídos.
Enquanto muitos de vós estão no quinto sono, a maior parte delas já está a caminho do campo.
Talvez poucos saibam como eles, a sensação de amanhecer rodeados de amarelo e/ou verde, a varejar as oliveiras que vos dão o orgulho de termos azeite premiado por aqueles que dão valor ao que é nosso ou a ceifar os cereais que vos colocam em grande parte o pão na mesa, muitas vezes até ao sol se pôr.



Eu quero falar-vos da luz doirada do Alentejo. De como é diferente de todas as outras. De como nos aquece a alma, seja verão ou inverno. 
Se a luz das manhãs é inspiradora, a luz das tardes... é vida. É oiro que paira no ar.

E por falar em ar! Respirar no alentejo é uma benção. E se ainda não a têm, corram para lá!

É saber o cheiro do antigamente. Aquele que os nossos avós nos ensinam ser o verdadeiro. O que já vinha dos seus pais e avós.

O cheiro do pão, do peixe acabado de chegar à lota, das estevas junto à praia, dos campos de girassóis, da palha acabada de cortar, dos cavalos que andam à solta, da carne de porco preto grelhada, da açorda acabada de fazer, do mar(!), da praia, dos limos que dão à costa na Ilha do Pessegueiro, do peixe grelhado nas travessas de Porto Côvo, dos tomates rosa, dos pimentos verdes da horta, dos caracóis naqueles finais de tarde abrasadores da cidade de Moura, do vinho de Reguengos. O cheiro da massada de peixe, das sopas de cação, dos torresmos, da moreia frita, dos percebes, do marisco em geral, do presunto (...), ficaria aqui eternamente a sonhar com todos os cheiros e sabores que me vêm à memória, como sendo aqueles, dali, daquele bocadinho de terra onde não existe nada de bom aos olhos dos outros, a não ser, algumas das melhores coisas do nosso País.

Eu quero também falar-vos da cultura e quero falar-vos de arte.

O espirito acolhedor dos que lá vivem, não permite que ninguém de lá saia sem o coração quente. É possível que não haja cama para a vossa visita inesperada, mas certamente haverá chão suficiente para que um alentejano se deite de modo a ceder-vos a cama dele. Ele pode até não ter a roupa do último grito da moda, mas terá sempre uma camisola para despir e para vos dar numa noite menos quente.
Tristezas? As tristezas ficam à porta, lá naquela plaquinha que não vos deixou indiferentes na auto estrada por onde passam, por vezes, um pouco mais devagar.

O povo alentejano é alegre. É alegre porque canta. Canta até as suas tristezas e amarguras. Canta sozinho, canta em grupo, canta em familia, canta com amigos. Leva a cantar até os que não são de lá. O povo alentejano canta orgulhosamente a sua essência. Há coisa mais extraordinária do que isto?

O povo alentejano é perserverante. Porque fazem magia sem varinha de condão.
E conquistador, não fosse o Vasco da Gama de Sines!


Não vos quero falar de paisagens, porque isso talvez seja o que, apesar de tudo, ainda vos faz distinguir esta região das vossas, das outras. Mas tenho que vos falar das praias. E perdoem-me o alongar deste texto, mas não tenho culpa das vantagens que preciso de vos apresentar.

Se há coisa de que não tenho dúvida nenhuma nesta vida é o nome das minhas praias favoritas.
E das quatro que tenho, duas delas - as primeiras - são Alentejanas. As praias Alentejanas são, para mim, as melhores do país por todas as razões e mais algumas - e, sim, eu vivo no Algarve.

As praias mais pequenas podem até estar a rebentar pelas costuras, mas a civilização das pessoas que frequentam o Alentejo, é diferente, diria que, especial. Raramente se ouvem crianças a berrar e pais aos gritos por cima delas. Sei lá, não há ruído, há um murmurar tão bom entre as pessoas que permitem que o mar seja a música de fundo. Afinal de contas, esse é o objetivo de ir à praia, não é?

A sua envolvência selvagem faz-nos esquecer que vivemos no século XXI, especialmente porque nas melhores de todas, aquelas que eu tenho como preferidas, nem quase há rede no telemóvel para nos lembrar disso. A areia dourada e as suas águas translúcidas fazem-me crer que sejam tão boas quanto as caraibas, mesmo sem que nunca lá tenha ido.
Há quem se queixe da temperatura, mas verdade seja dita, para tomar banho de banheira e esquentador, existe sempre ali ao lado a praia de São Torpes para solucionar esses casos estranhos de quem vai à praia e pensa que se está a dirigir ao WC de sua casa.

É possível jogar à bola ou raquetes sem fazer o vizinho do lado comer areia às colheres, mergulho e pesca submarina sem que se mate alguém que teve a mesma ideia, surfar ou fazer bodyboard com ondas de verdade, fotografar nos mais infimos cenários maravilhosos que existem dentro ou fora de água ou simplesmente descansar. Assim, só mesmo não-fazer-nada e ter paz de espirito num raio superior a cinco metros!



Só para terminar, podem por favor deitar-se numa noite de verão em cima de um fardo de palha e olhar para o céu? O Alentejo encomendou as entrelas mais bonitas da galáxia para habitar os seus céus.

Isto tudo para dizer que eu amo de coração o Alentejo. Que ir para lá é como receber uma lufada de ar fresco num dia como o sábado passado em que mal se respirava com tanto calor.
É apagar o resto do mundo e contentar-me com o pouco que é tanto.
Porque lá, não há mal que sempre dure. Nem caminhos bons o suficiente para quem apenas anda na Auto-Estrada.

Um beijinho,
Patrícia Luz



sexta-feira, maio 11

Mais do que fazer

Não estou cá para perder tempo a corresponder a expectativas. Não quero ser nada do que não seja. Não quero tão pouco que contruam castelos à minha imagem. Construam cabanas e de palha. Não quero saber de quem fala de mim. Quero só que falem e que falem muito. Não fui feita para viver em gaiolas. Não fui feita para obedecer a regras. 
Escolhi viver de escolhas e não de chances. Optei por ser motivada e não manipulada. Ser útil e não usada. Sobressair e não competir. Escolhi o amor próprio e não a autopiedade. Escolhi ouvir a minha própria voz e não a opinião os outros. Não vim a este mundo para competir com ninguém. Quem quer competir comigo, perde o seu tempo. Estou neste mundo para competir comigo mesma. Ultrapassar os meus limites, vencer os meus medos, lutar contra os meus defeitos, superar dificuldades e correr em busca dos meus objetivos... e tudo isso já me ocupa bastante tempo! *


* Bruna Valente

sábado, abril 21

Aveiro | Já passeaste o teu avô hoje?

A vida vai passando por nós. 
O tempo vai fugindo e só quando nos apercebemos que algo já passou é que damos por nós a pensar sobre o que poderíamos ter feito e não fizemos. 

Com o passar dos anos fui perdendo pessoas de quem gostava muito. Todos perdemos. Mas eu nem me apercebi do quão importantes eram aquelas pessoas em específico e o quanto as devia ter mimado ainda mais. Quando era mais pequenina, nem dava valor ao valor que o tempo tinha. Ainda hoje é assim, por vezes. Há semanas que passam e nós nem damos por isso: tão depressa é segunda, como a seguir já é sexta e o tempo passou. Assim como depois vem novamente a segunda e não fizemos nem metade do que gostávamos de ter feito no fim-de-semana. Às vezes por preguiça, outras por tempo gasto em coisas desnecessárias, energias gastas com pessoas ou coisas sem energia, outras por desculpa: porque chove, porque faz sol, porque sim, porque não. 

É sobre o tempo que eu quero falar. 
Especialmente o que voa. 

O que voa sem que tenhamos as pessoas que amamos por perto. Sem que viajemos aos lugares que sonhámos, sem que tenhamos conhecido um estranho que vinha com o objetivo de mudar a nossa vida, ou aquele em que não brindámos com os nossos melhores amigos porque chovia e não apeteceu sair de casa. 

Mas especialmente do tempo em que não temos as pessoas que amamos por perto. Porque os lugares mantém-se lá, os estranhos serão sempre estranhos e os amigos, se forem de verdade, estarão lá também... porque apesar de tudo, teremos sempre tempo para a amizade.

Outro dia a minha mãe ligou-me. Ela é aquela pessoa que me esconde sempre que as coisas estão mal só para não me preocupar demasiado. Normalmente conta-me as coisas com os verbos conjugados no pretérito perfeito, do tipo "Ontem não estive muito bem, mas hoje estou", coisas assim. Mas no outro dia ela ligou-me e disse "O teu avô não tem estado muito bem" e aí eu dei por mim a preocupar-me a sério com o TEMPO.

Os dias passam e o meu avô está longe. E nesse momento eu dei por mim a pensar como o tempo tinha voado desde a última vez que o vi.
As prioridades diárias com o trabalho,com as prioridades que nem sempre são prioridade e afazeres que podíamos deixar para depois mas não deixamos, roubam-nos muitas vezes um tempo tão prioritário como aquele que nunca mais voltará atrás.

Foi por isso que tirei férias.
Tirei férias para deixar as prioridades para trás e ir viver um tempinho com o meu avô.

Nesse mesmo dia liguei-lhe. Quando ele me disse que ia desta para melhor, eu respondi-lhe que "com certeza que ia, porque eu ia de férias e íamos passear!!". No dia em que lhe liguei ele falou-me das dores de estômago que tinha e eu lembrei-o de me lembrar de comprar ovos moles quando fossemos a Aveiro. 

E fomos. 





 O meu avô é um máximo. 
E passear com ele é uma óptima ideia, algo que não me tinha ocorrido antes de me lembrar que o tempo voa e ele está a voar com ele.
Por ele está tudo bem. Desde que almoce há uma da tarde em ponto e cheguemos a casa antes de anoitecer, podemos passear pelo mundo inteiro.
Além disso, é fotogénico. E ao contrário de todas as pessoas que viajam habitualmente comigo... posso perder algum tempo a tirar-lhe fotos!! 





 Passeio sem almoçarada não é passeio, por isso gostava de recomendar a "Tasca do Sal" pela atenção para com o meu avô e pela excelente gastronomia (calma, ninguém me pagou para isto)! Apesar de ser tasca, nós não experimentámos os petiscos, mas os pratos principais estavam óptimos: Bacalhau á casa com camarão, Espetadas de lulas com camarão e Robalo escalado grelhado. Se o avô disse que estava óptimo, é porque ele sabe: são oitenta e oito anos a provar comidinhas boas. 




  E porque Aveiro sem uma visitinha à Costa Nova e à praia da Barra não seria a mesma coisa, cá viemos nós! Estas casinhas coloridas não podiam escapar a umas fotos para vocês. 

Este artigo ainda é sobre o TEMPO. 
Fi-lo não só para recordar para sempre este dia fantástico com o meu avô (e mãe), como para vos lembrar que o tempo está a voar enquanto vocês estão preocupados com coisas talvez desnecessárias, pessoas que vos fazem gastar energias sem retorno e actividades que nem sempre se vão traduzir em felicidade . 
O único tempo que merece a nossa principal atenção é aquele que é passado com as pessoas que amamos, a fazer aquilo que gostamos!

Não se esqueçam disso. Nem esqueçam dos vossos avós. 

Porque o meu ficou muito melhor depois disto. 
E os ovos moles? Por ele tinham vindo em dobro. Adeus dores de estômago.  

Um beijinho e bons Passeios, 
Sejam felizes HOJE!
Pat

segunda-feira, abril 9

Quer uma foto?

Eram umas oito da noite e começava a haver um ratinho no estômago a pedir-lhe comida.
A hora mudou e felizmente já é dia. 
Dores de cabeça depois de uma segunda-feira preenchida o suficiente para se ter esquecido de pôr algo a descongelar para o jantar. 
Esta coisa de uma pessoa se tornar adulta não tem piada nenhuma.
Se ninguém se lembrar por ti da roupa na corda, ela fica lá a ressequir ao sol... e com sorte comes ovos mexidos se pelo menos isso tiveres tido o cuidado de garantir no frigorífico. 

Ninguém sabe a que horas saíste, ninguém te garante o acordar se o despertador falhar, muito menos o jantar se te tiveres esquecido que jantar é importante no meio de tantas coisas mais importantes que tens para fazer. 

Ninguém merece crescer. Ninguém merece não ter ninguém que se preocupe. 

Trocou os saltos altos por umas botas rasas e confortáveis, o blazer por um casaco casual e lá foi jantar fora e a pé. Só para ter a certeza que os pés ainda tem coragem de pisar o chão depois de tantas horas sentada em frente a um ecrã que muito diz, mas nada fala.

Anoitecia. O vento frio do final de tarde fazia-lhe esvoaçar os cabelos enquanto descia a rua num andar firme e determinado. Por isso, apertava o casaco com as mão junto ao pescoço para não se constipar. Abril já não é o que era. E ela também nunca mais será. 

Malinha a tiracol e uma massa de frango na cabeça. Nada mais a preocupava. 

Sozinha. 

Decidida, fez o pedido; "Uma massa de frango pff, se possível com pouco azeite, Obrigada". 
Já lá vai o tempo em que nada lhe fazia mal. 

Depois de equipar o tabuleiro com os apetrechos básicos de jantar e efectuar o pagamento, sentou-se numa mesa ao fundo da sala a aguardar a vez da senha do seu pedido. Vários números iam sendo chamados, várias vozes iam sendo ouvidas em tom de fundo. Famílias, trabalhadores vindos directamente dos seus empregos, alguns idosos, algumas crianças a correr pela sala e ela, que se esqueceu simplesmente de pôr algo a descongelar. 

Assim que se senta, há uma sensação estranha de ser observada de alto a baixo. Desvalorizou. Pegou no telemóvel e fingiu que nada era com ela. 
Entretanto a visão periférica continua a manter a sensação de olhos postos no que está a fazer. Levanta a cabeça com certeza e olha em redor quando se depara com quatro indivíduos do sexo masculino - temos que lhes chamar assim, porque não há outro nome possível - especados a olhar para ela enquanto comem sabe-se lá o quê. 

Olhos postos no telemóvel novamente só para garantir que não havia rede naquele lugar e na expectativa de demonstrar que não era nada com ela, aqueles oito olhos mantém-se postos no que está a fazer.

Calma lá! Mas será que de uma banal rapariga que se esqueceu de descongelar algo para o jantar, passou a mobília de museu? 

Ao fundo gritam: "Senha 62 - Massa de Frango!"

Levanta-se. E os oito olhos percorrem todo o movimento. 

Não resistiu e em tom firme, perguntou:
" - Desculpem, os senhores por acaso querem uma foto? Sinceramente..." 

Foi buscar o pedido e sentou-se novamente no seu lugar. 

E cá vos digo, quem virou museu foi o prato onde comiam. Certamente nunca apreciaram tão bem a sua comida como hoje, sem coragem de voltar a colocar os olhos no que quer que fosse dela. 

Ser mulher não é ser objecto de apreciação. Dêem-se ao luxo de ser civilizados "indivíduos do sexo masculino a quem não sei que outro nome dar". Tornem-se HOMENS e honrem a vossa espécie.

Tirando isso a massa estava óptima! Diz ela.

Votos de um bom final de segunda-feira, 

Patrícia Luz 
10 de Abril 2017