terça-feira, março 25

Decide tu também.




Os meus dias de drama. Que agora são os teus. 

Esta é a minha história. 

Um dia, há algum tempo atrás, sentava-me aqui em busca de forças que me fizessem renascer nas cinzas que se criaram desde o dia em que ele partiu. Tudo eram sinais. Sinais da sua ausência, sinais da sua presença ou omnipresença, que para mim era o que isso significava. Agarrava-me a isso e não queria mais saber de mim. Eu só queria saber de mim no dia em voltássemos a ser nós.  

Todos os loucos apaixonados pelas cinzas de um amor o fazem. Eu fi-lo durante muito, muito, tempo. Fazia apostas comigo própria de quanto tempo aguentaria sem vir à internet - porque tudo o que me fazia bem, em dobro me fazia mal -, colava post-it's no computador que me faziam olhar para isto como a máquina da minha infelicidade, apagava o número de telefone dele cada vez que tinha saudades apesar de o saber de trás para a frente e de pernas para o ar. E chorava, no silêncio da noite, quando não me punha a imaginar o dia em que nos voltaríamos a ver e quem sabe ficarmos juntos por obra e graça do espírito santo. 

Por obra do espírito santo. Ora aqui está a boa definição para a falta de amor. 

Lembro-me do dia em que decidi deixar de o amar. Não me lembro do dia em que o fiz concretamente. Continuo a atribuir-lhe um carinho muito especial. Mas foi um bom começo. Há coisas na vida que custam mesmo é começar. É como as idas ao ginásio ou as dietas rápidas pré verão. Se não decidirmos que tem mesmo que ser, ninguém o fará por nós. O amor não é excepção. 

Dói. Dói muito. Doeu-me muito ver aquela que era a pessoa que imaginava toda a vida comigo - sim, os adolescentes chegam a pensar mesmo assim - entre a espada e a parede, entre o meu amor doentio e a minha felicidade adiada. Mas valeu a pena. 

"O primeiro passo para chegar a algum lado é decidir"; foi mesmo. Mas não foi assim tão simples. Nisso o amor é traiçoeiro. Tanto que quando pensas que estás mesmo a sair do circulo, vai haver algo a puxar-te, a esquartejar o teu coração e a dar cabo da tua cabeça , como deu da minha milésimas vezes, ao ponto de te deixar na merda e a acreditar que o destino está a conspirar a teu favor de novo. A vosso favor. 

É treta! 

As obras do espírito santo nunca nasceram. E um amor falhado é tudo menos amor. É uma falha! Ponto.

Depois de coleccionar falhas aprendi a coleccionar as coisas simples da vida. Uma por uma; dia após dia e a dar valor aqueles que durante anos me disseram o que não quis ouvir. O que não quis saber. O que não quis sentir. E deixa-me dizer que durante esse tempo perdi muitas coisas e pessoas que hoje podiam fazer parte da minha vida. Que podiam fazer a minha vida um bocadinho melhor.

Por isso, se um dia tudo correr mal, respira fundo e lembra-te: o sol nasce todos os dias e as tempestades nunca deixarão de existir. A vida é mesmo assim. Há forças que vêm de onde menos esperamos porque o que tem que ser sempre teve mesmo muita força.

Apesar de não me livrar dos dissabores - e ainda bem-, a vida ficou mais leve. 
Ama-te:

Decide tu também.  


Patrícia Luz
25 de Março de 2014
ao som de Foo Fighters.



quinta-feira, março 20

O amor é mesmo isso

Sabes que fizeste merda quando deixaste o coração comandar a cabeça e escreveste aquilo que não devias. Quando matutas nisso dias a fio. Te martirizas a ler aquilo que pensaste, que disseste, que sentiste.. naquele momento pouco forte da tua sanidade mental. Que não querias ter dito, embora quisesses muito que se soubesse. Que apesar de gostares, não devias. Que sabes que não devias - o pior de tudo ainda é isso, é saber que não devias. Porque te faz mal, quando gostavas tanto que te fizesse bem. De que te queres livrar como quem amarrota uma folha de papel e a atira ao lixo no mesmo instante em que escreve um erro na primeira linha. Mas que no fundo querias abraçar com força e não deixar fugir mais, porque essa podia ser a primeira palavra do resto da história. Desta história sem história; ou dessa história sem fim. Sabes que fizeste merda quando não fizeste merda nenhuma e te encontras a encontrar explicações para nada.
Redundante, não achas? 


Confuso. O amor é mesmo isso. 

Patrícia Luz
19 de Março de 2014



sexta-feira, março 7

Porquê?


- Que se passa?
- Não aguento mais... tenho estado o tempo todo a aguentar, mas não aguento mais.
   (...)

- Valoriza-te miúda! Tu és linda por dentro e por fora! 
- Não entendo. Porquê a mim? (...)
- (...) Não chores mais pff. 
- Porquê a mim? Porquê? Porquê?
- (...) 
- Eu sou um cabrão.


Ele não o era. Nem ele nem ninguém naquela conversa, mas foi assim que pela primeira vez na minha vida ouvi alguém admiti-lo. Houve tanta verdade naquela mentira, ou tanta mentira naquela verdade que nem sei bem no que acreditar.  Não quis acreditar em nada naquele momento, para ser sincera. Mas tranquilizou-me. Nunca o tinha ouvido da boca de ninguém na primeira pessoa do singular. Quereria ele dizer que todas as pessoas lindas por dentro e por fora que choram por alguém, é porque esse alguém é um idiota? Culpabilizara-se por todos os idiotas do planeta que me faziam estar ali naquele momento? Não sei bem. Mas obrigada. 
Bem longe ouvia a música que se difundia pelas paredes daquele cubículo onde me refugiei do mundo. Não precisava de mais nada. Além de ti, que tinhas sumido, só de chorar. A vodka circulava-me no corpo, como as lágrimas que me rolavam pela cara. A mil à hora. Os olhos fechavam-se sofregamente intervalados pela magoa de não entender que mal poderia eu ter feito a Deus. Senti-me vazia. Estúpida. Traída pela verdade. Humilhada. Sem forças. Sem norte. Sem chão. Pudera eu arrancar o coração do peito e esquartejá-lo pelo mal que me fazia naquele momento. Pelo mal que me tem feito.
Porquê a mim? Porquê? Porquê?
(...)

Patrícia Luz
7 de Março de 2013
ao som de Majestic